4/26/2006

Feira da Ladra

Quando um ar de sol e rio a inunda de manhã, Lisboa, a provinciana, é bonita e é real. Os grandes traficantes movidos a marketing de luxo não passam por aqui. A mercancia é viva, a ladroagem é natural e honesta porque acessível a todos. O marketing é humano. Os pregões ladram. Todos se roubam, o dinheiro é pouco, não pode ser grande o roubo. O grande linguista povo, infalível e talentoso, escolheu bem a palavra: feira da Ladra. Se fosse criada agora, imagino o nome inglês que, para o mesmo efeito, lhe poriam e os ouropéis electrónicos que lhe escureceriam o sol e dariam ao recinte o ar fechado e hostil de centro comercial.
Passa por mim no recinto um casal de jovens ucranianos, ele com o bebé ao colo. Apressados, os olhos duros mas perdidos, menos os do bebé. Imagino que não têm onde dormir esta noite. Quem já passou por isto sabe que, assim, o rio e o sol não contam, que a beleza é uma treta. Por mim, este casal tem direito a tudo, até a apagar o sol para poder roubar na feira da Ladra.