5/06/2006

Dez minutos de Público

O Público é um dos melhores jornais portugueses porque se lê em cinco minutos, contando o deste sábado com mais cinco para um artigo de interesse, «O Bobo Inteligente», de Rui Tavares: um humorista americano, qual cavalo de Tróia, aproveitou os dez minutos da sua intervenção na jantarada paternalista do presidente para lhe fazer tantos louvores, e à América, e à imprensa americana que encobre a América bushiana, que a ironia funcionou e se volveu em sátira eficaz. A imprensa americana calou tão bem a performance que, se não fosse a Net, não saberíamos de nada.
Outro artigo de interesse, que não de honestidade jornalística, chama-se «Fidel Castro já é mais rico do que a rainha de Inglaterra». Neste artigo pratica-se na perfeição a arte do «parte-se do pressuposto». Parte-se portanto do pressuposto de que de Fidel Castro não é de esperar nada de bom e que, se a Forbes insiste em que o homem é rico, com base na obviedade de que certas empresas, porque são nacionalizadas, ou nacionais, logo são «dele», logo se «estima» que ele tira dividendos delas, isso é notícia. Fidel Castro nega, mas o Público prefere dizer que «ficou furioso». A Forbes «estima», insidiosamente é certo, o Público quase-quase afirma, também insidiosamente. Tenho dois alvitres para os que querem partir de outros pressupostos semelhantes: Hugo Chávez e Evo Morales. Também se fartam de nacionalizar para ficarem tão ricos como o Fidel Castro, são dois índios feios como botas da tropa, e o Evo, em vez de capachinho, tem um capacete na cabeça feito de cabelo natural.
No querido Mil Folhas nunca perco o Jorge Silva Melo a fumar na sua coluna Fora do Mercado. Tal como eu, modéstia à parte, ele pratica muito bem a arte de misturar poeticamente alhos com bugalhos para reconstituir um passado provável. Também no Mil Folhas não li a «crítica» de Eduardo Pitta à recente tradução da Arte de Amar de Ovídio. Passei-lhe a vista e logo vi que é um artigo para guardar porque tem muitas informações úteis, como o número de páginas, e extractos da Arte que podem vir a servir para mostrar erudição em certas reuniões. Quando se lembrará Eduardo Pitta de fazer crítica como eu já lha vi (li) fazer?