5/09/2006

O Benfica é Donner, não é Koeman

Dostoiévski esteve quatro anos preso na Sibéria e mais dois deportado. Fala com conhecimento de causa da sua condição de «animal prisional» nos Cadernos da Casa Morta (Editorial Presença, 2003). Não se esquece de referir a compaixão do povo russo para com os presos, alguns dos quais cometeram crimes hediondos de que não se arrependem. Mas o povo russo continua a vê-los como seres humanos e dá-lhes a esmola e o carinho que pode. Isto é o preâmbulo.
Mais uma vez derrotado este ano no futebol - note-se que a consciência geral do povo futeboleiro é esta: não são os outros que ganham, é o Benfica que perde - o Benfica cultiva, ou traz nos genes, uma força moral tão forte e tão próxima do povo que chega a ser comovente. Não sei se o Benfica foi também derrotado no futsal e no andebol, pouco importa. Importa que as equipas destas duas modalidades visitaram há pouco um estabelecimento prisional, jogaram e conviveram com os reclusos. Donner, ucraniano e actual treinador da equipa de andebol, estava presente e declarou (cito de memória): «Qualquer pessoa pode ter problemas com a polícia e ser presa. Os presos também são seres humanos, também precisam de calor humano.» Como benfiquista, gostaria que este herdeiro do povo russo e de Dostoiévski ficasse. Koeman pode ir.