5/14/2006

O lucro não é pecado

Esta é talvez a ideia mais frontal saída de um programa a cargo do Opus Dei, feito ontem pelo Opus Dei na SIC. Sim, porque aquilo, clara e ingenuamente, não era uma «reportagem objectiva da SIC sobre o Opus Dei», como eles pretendem, mas um programa de propaganda da própria seita para minorar os efeitos do filme Código Da Vinci. Esta igreja dentro da Igreja em que se transformou a seita fundamentalista do santo Balaguer, e que, graças aos apoios dos dois últimos papas de Roma está a transformar-se na própria Igreja católica; a rapidez com que o fundador Balaguer, um franquista militante, foi tornado «santo» por Wojtyla; o domínio confessado da seita na alta finança e na formação de elites (com o apoio de governantes e mesmo de governos) deveria fazer pensar os homens livres, católicos ou não.Na reportagem de ontem, lá estava o Mota Amaral, lá estava o Jardim, ex-patrão do BCP, substituído no comando do empório financeiro por outro opus dei. Lá estavam os numerários, supranumerários, agregados, sacerdotes e escravos do Opus Dei, ressumando hipocrisia, mentira, areia para os olhos. Nem uma voz contra e, de fora do Opus Dei, apenas uns poucos ex-militantes tão seguidistas que até se sentiam mal por terem saído. Até o próprio «historiador do cristianismo» presente era deles, estava lá para debitar baboseiras inócuas.O conceito de que o lucro não é pecado aos olhos de Deus (os olhos de Deus são os deles, com óculos ou sem óculos de ouro) pairou por cima e por dentro de todo o programa propagandístico. O resto era mentira e hipocrisia. Jardim disse que o seu substituto o era por competência e não por ser do Opus Dei; um padre fanático disse que o cilício medieval e a martirização não o era, que aquilo era mais doce do que «puxar o lençol de baixo»; encerrados atrás das grades da sua servidão, os opusdeístas falavam de «liberdade». Como se toda a humanidade que visse a SIC fosse estúpida, como se nos pudessem enganar como a meninos. Aquilo foi ridículo e trágico, porque eles vão alargando, aprofundando o seu poder.